Imaginou morar em um barco durante alguns dias? Será que existe rotina? Não enjoa? É maluquice? Quais os prós e contras? Muitas perguntas podem surgir para quem pretende se aventurar nessa ou para quem conhece alguém que vá ter essa experiência.
E agora, imaginou que este barco esteja navegando pelas águas do Mar Andaman, passando por diversas ilhas da Tailândia, muitas delas completamente desertas? Após uma primeira experiência pelo Arquipélago de Abrolhos, na Bahia, fui para o outro lado do mundo, desconectar e mergulhar por águas muito desejadas. E para isso, foram sete dias onde o barco foi o meu lar doce lar!
Como surgiu a ideia de morar em um barco na Tailândia
Conhecer a Tailândia e mergulhar em um oceano desconhecido era algo que estava no topo da lista de desejos. Durante algum tempo foram surgindo desencontros e outras prioridades que fizeram com que este sonho demorasse um pouco mais para se tornar realidade. Mesmo assim, era um sonho que nunca foi esquecido.
Em algum lugar no mar Andaman - Similan e Surin Islands
Conhecem o sentimento de ‘estar no lugar certo, no momento certo’? Pois foi bem assim que aconteceu. O lugar era Fernando de Noronha; outra paixão que tenho. O momento: uma viagem de mergulho com amigos especiais. Tá feito o estrago no melhor dos sentidos. Naquele oportunidade, fiquei sabendo da viagem para a Tailândia e foi só confirmar a existência de vaga e decidir ir! Parece fácil, não? A decisão estava tomada!
A viagem aconteceria em Fevereiro de 2017 e o roteiro passaria por Tailândia e Camboja, outro lugar de desejo. Vocês já sabem que viajo sozinha, mas também viajo de excursão e não vejo qualquer problema nisso. Como tudo na vida existem prós e contras, o importante é não deixar de ir e de viver!
Amanhecer em alto mar!
E nesse roteiro, além das ilhas e templos, um dos focos da viagem seria mergulhar em águas tão desejadas e conhecer novas vidas. Fecharia meu mergulho número 100 e ainda teria a oportunidade de conhecer Richelieu Rock, considerado um dos pontos de mergulho mais bonitos do mundo. Para isso, passaríamos uma semana no mar! Isso mesmo: sete dias morando em um barco, operação que chamamos de liveaboard.
Uma semana total desconectada e 'in natura'
Como é o dia-a-dia no liveaboard de mergulho
Boat-sweet-boat! Nossa casa por uma semana
Apesar de se ter bastante tempo livre, a programação diária também era intensa.
Acordávamos às seis e meia da manhã direto para o primeiro mergulho do dia. O responsável pela tripulação entraria nos camarotes nos saudando com a mensagem de ‘Bom dia’ – “Wake, wakeee, let’s go diving!”(Acordem, acordem, vamos mergulhar!). Juro, nunca foi chato!
Quadro de avisos... quase na hora do jantar!
O café da manhã estaria nos esperando quando retornássemos. E era farto: pão de forma para tostar, manteiga, geleia, batata frita, bacon frito, salada de tomate e pepino, ovos mexidos e cogumelos refogados; ao estilo Thai.
Parada em uma das ilhas quase desertas
Neste intervalo, desembarcávamos em alguma ilha e conhecíamos mais uma lindíssima praia. Desculpem-me, mas é impossível não utilizar vários adjetivos e superlativos para descrever as belezas da Tailândia.
Era a chegada a hora do segundo mergulho do dia. E na volta, hora de almoçar. Sopinha Thai, arroz, porco moído com vagem, vegetais refogados e frutas de sobremesa. Bebidas ficavam sempre disponíveis: água mineral sem e com gás, refrigerantes, chá e café. Impossível não lembrar do enorme pote com biscoitos de abacaxi. Gula de todos!
O paraíso existe e muito dele está pela Tailândia!
Daí vinha uma pausa maior, onde quase todos aproveitavam para tirar àquele cochilo até a hora de cair na água para o terceiro mergulho, quando tinha esse. Durante a navegação, fomos visitados por um bando de golfinhos, queridos, que brincavam na proa no barco e saltavam uma ou outra vez. Navegar tem dessas surpresas!
De volta ao barco, mais tempo livre. Era hora de aproveitar os momentos de sol no terraço e ficar papeando lá até ele se despedir. Sempre nos divertíamos com os peixes voadores que apareciam e, eventualmente, víamos algum marlin saltando alto ao longe. E era um por do sol mais mágico que o outro; momentos de muita bênção a bordo!
Happy hour!
E, claro, os queridos membros da tripulação providenciavam lanches, como rolinhos primavera. Todo mundo passava muito bem no barco e era livre para fazer o que quiser: ler, dormir, jogar, nadar, escrever, não falar com ninguém ou ficar com todo mundo. Tudo era válido!
Terminou? Não!!! Sete da noite, todos para a água de novo, dessa vez, munidos com as lanternas, pois o mergulho era noturno. Volta, banho e jantar, sendo que no último dia nos era preparado um belo churrasco de despedida! Sorte que fizemos duas operações seguidas e tivemos duas festas de despedida!
A melhor manga do mundo e outras comidas, com
direito a churrasco e bolo de aniversário esculpido na melancia!
Mergulhadores e tripulação
Liveaboard da Sea Dragon – Khao Lak
Para embarcarmos nesta viagem, fomos até Khao Lak, onde fica a sede da Escola de Mergulho Sea Dragon, com quem fizemos a expedição. As malas maiores ficaram em terra e lá ainda pudemos tomar uma ducha e sair para jantar com vista para o mar. Nosso embarque estava marcado para às oito horas da noite e foi um dia, em parte, perdido, pois chegamos bem cedo em Khao Lak e estávamos ansiosos para ir ao mar!
Chegando ao pier, a tripulação nos conduziu aos camarotes e depois nos encontramos no salão comum para receber as informações sobre a embarcação e sobre a operação do liveaboard; o que poderia ou o que não seria recomendado fazer tanto no barco, como nas áreas do Parque Nacional, aonde iríamos mergulhar. Feito isso, a turma foi liberada para fazer o que bem entender e dormir já era uma opção.
Parte da estrutura da embarcação M/V Andaman
Os casais ficaram em quartos privativos e os solteiros nos camarotes, com seis camas tipo beliche. Chamávamos de casulo, por causa da cortina que dava privacidade para cada um. Foi como viver em um ‘reality show’ e conviver com os amigos e alguns desconhecidos não foi problema para ninguém; estávamos unidos pela mesma paixão por mergulhar. Exceto para um rapaz suíço que foi, discretamente, convidado a se retirar por excesso de álcool no seu organismo, o que não era permitido. Foi o único infortúnio.
Para o mar só levamos o necessário: equipamentos de mergulho, roupas de praia, toalha e itens pessoais de higiene e de diversão. Passava-se o tempo todo descalços, com roupas bem leves e, eventualmente, algum casaco nas noites mais amenas ou se alguém tivesse se passado um pouco no banho de sol!
Café da manhã de todo dia
A estrutura do barco era boa, se comparando com a minha única experiência anterior. Na cobertura, ficava a área de sol, redes e o deck com pufes. O salão de refeições e lazer estava no andar central. No primeiro andar, acesso aos camarotes, banheiros e a área molhada, com todos os equipamentos sempre montados à espera do próximo mergulho.
As comidas eram ótimas! Para a amiga vegetariana, tinha cardápio personalizado. Na minha experiência, tive apenas um pequeno mal-estar, que me fez desistir de um dos mergulhos. Ficar mareado, como chamamos o enjoo do mar, não é uma sensação muito boa. Ainda bem que o meu foi leve e passou rápido!
Momento de relax a bordo
Foram duas operações emendadas, uma de quatro e outra de três dias. No intervalo, precisamos retornar à terra para abastecer e ter o barco limpo. Um tempo perdido que nos fez descobrir um bar bizarro no meio do nada, com direito a karaokê e garçonetes sentadas à nossa mesa. Como rimos!
À tripulação e equipe da Sea Dragon só tenho a agradecer tamanha presteza, gentileza e simpatia. Fizemos deles todos a nossa família durante àquela semana.
Aos amigos da Planeta Mergulho, de Porto Alegre, lembranças mais do que especiais de uma viagem tão sensacional. Que venham novas águas e muitas outras experiências gostosas como esta!
Foto de despedida !!!
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